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Histórico |
A história deste tanque se confunde com a história vivida
pelo Brasil em meados dos anos 80. O Brasil vivia uma época de mudanças
políticas profundas, que marcaram o fim do período de ditadura e o início da
democracia, estabelecida com o voto popular. Neste universo, o Brasil já
representava uma grande força na venda de equipamentos militares,
principalmente para os países árabes. Esses equipamentos eram, em sua
maioria, carros de combate blindados do tipo Cascavel e transporte de tropas
Urutu. Mas, naquela época, o governo saudita estudava a possibilidade de
renovar sua frota de tanques de combate (MBT), mas não estava inteiramente
satisfeito com o que estava disponível no mercado. Assim, a ENGESA – (Engenheiros
Especializados S/A), que era a fabricante do Cascavel e Urutu, fornecidos
aos países árabes, resolveu investir no desenvolvimento de um tanque de
combate que viesse a satisfazer as exigências do governo saudita e ao mesmo
tempo oferecer ao governo brasileiro um MBT que fosse adequado às realidades
brasileiras, sem deixar de ser uma opção real para a atualização de suas
divisões blindadas. Primeiramente, decidiram por comprar um projeto
estrangeiro já existente, apurou-se que a Thyssen-Henschel (Alemanha),
possuía um projeto designado Leopard 3, mas na verdade o projeto não passava
de uma versão melhorada do Tanque Argentino Médio – TAM, que é uma derivação
do veículo de combate de infantaria (VCI) Marder. O carro não teria a mínima
condição de concorrer com veículos da classe do Leopard 2, M1 Abrams,
Challenger e outros.
Com a sorte lançada, foram fixadas algumas premissas básicas: a largura
máxima deveria ser de 3,20m, máximo de 42 tom, dois canhões principais (uma
versão com canhão de 120mm e outra com canhão de 105mm (L7/M68)). Foi
batizado de Osório, em homenagem ao patrono da Cavalaria do Exército
Brasileiro. Foi escolhida a suspensão hidropneumática da Dunlop (a mesma
usada no Challenger inglês), a transmissão ficou acertada com a ZF LSG3000,
pois a ZF conta com fábricas no Brasil. Para o motor, decidiu-se por um da
MWM (Alemanha), o TBD 234 de 1000cv diesel, mesmo nunca tendo sido usado em
veículos de combate. Os trabalhos de desenvolvimento começaram no segundo
semestre de 1983 e o primeiro protótipo do carro ficou pronto em setembro de
1984; em maio de 1985 recebeu a “Torre Padrão” e o protótipo já foi enviado
à Arábia Saudita. Na ocasião, tal atitude parecia uma incoerência, o veículo
não era inteiramente representativo daquilo que seria, mas contra tudo, o
veículo foi embarcado em um avião e enviado a Ryad em 20/07/1985, ao
desembarcar, já encontrou um de seus rivais fazendo as provas, era o
Challenger.
Nessa primeira prova, o Osório encontrou problemas com seu motor que foram
prontamente solucionados pela MWM quando do retorno ao Brasil. Nessa mesma
época, o Exército Brasileiro submeteu um dos protótipos equipado com canhão
de 105mm a um processo completo de RTEx (Relatórios Técnicos Experimentais)
e RTOp (Relatórios Técnicos Operacionais). No começo de 1986, a Vickers
entregou a segunda torre (com canhão de 120mm), imediatamente incorporada ao
chassis, e incorporadas às lições e aprimoramentos ditados pelos testes
realizados anteriormente nas areias do deserto e os RTEx e RTOp, no Brasil.
Finalmente, em julho de 1987, o protótipo definitivo do Osório, acompanhado
das melhores esperanças da ENGESA, seguiu para uma nova fase de competição
na Arábia Saudita. Lá estavam seus adversários: o Challenger, o AMX-40 e o
M1 Abrams, que a exemplo dele, seriam todos tripulados por equipes de
militares sauditas, indicados por sorteio.
Foram 2350 km de rodagem (1750 km no deserto), superação de trincheiras de
três metros de largura, dar partida em rampa de 65%, rodar em rampa lateral
de 30%, testes de aceleração, frenagem, pivotamento (180 graus), consumo de
combustível (2,1 km/l no deserto e 3,4 km/l em estradas pavimentadas),
remoção e instalação de lagartas (10 min para remoção e 20 min para
instalação), 6 horas com motor funcionando e o carro parado, 6 km em marcha
à ré e reboque de um carro de combate de 35 tom por 10 km. Na parte de tiro,
foram efetuados 149 disparos, sendo 82 em situações de veículo e alvo
estacionados (maior distância = 4000 metros), veículo estacionado e alvo
móvel, veículo em movimento e alvo estacionado, e, veículo em movimento e
alvo em movimento (maior distância = 1500 metros). Nas partes técnica,
operacional e de engenharia o Osório correspondeu plenamente ao que dele se
esperava, e juntamente com o M1 Abrams foi declarado passível de ser
comprado pelos sauditas. Quando o excelente e bilionário negócio parecia
estar prestes de ser concretizado, revelou-se a real faceta desse tipo de
mercado, o peso político e econômico dos EUA determinaram o vencedor. A
dinastia saudita sempre depositou sua continuidade, num providencial socorro
de Washington, isso ficou mais evidenciado em 1991, com a invasão do Kwait
pelo Iraque de Saddam Hussein. Com isso, ocorreu o fim da ENGESA, e o
Exército Brasileiro ficou sem um carro de combate nacional comparável ao
naipe dos melhores existentes lá fora. O Brasil tornou-se hoje, um
importador de blindados de segunda mão.
©2002 - Texto e modelos de Paulo R. Castro. Fotos do
Osório cortesia EMFA. Todos os Direitos Reservados.
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